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A mente é algo sinistramente burlesco; possui uma força descomunal suficiente para, sozinha, transformar completamente a vida de qualquer pessoa: tanto para melhor, como para pior; às vezes, para ambos. Quando criança, Eduardo era conhecido pelos amigos como ‘Ferrugem’, em decorrência de seus cabelos secos e ruivos, e do excesso de pequenas pintas espirradas pelo rosto. Não era um garoto bonito; mas, em contrapartida, toda e qualquer criança tem a sua real beleza escondida de trás das inúmeras espinhas da adolescência, que desponta inesperadamente em um ímpeto fervoroso; surpreendentemente. Com Eduardo, infelizmente, não aconteceu dessa forma. Na verdade, não aconteceu de forma alguma. Permaneceu um jovem pouco atraente, alvo, com dentes grandes sob os lábios comprimidos e orelhas alojadas em ângulo reto ao resto da face. Tinha um aspecto de ferrugem envelhecida. Porém, e por incrível que pudesse parecer, dentre todos os colegas da turma do bairro, Eduardo se transformou no maior garanhão de todos. Saiu com todas as garotas, desde as mais novas até as mais velhas, embora falhasse em arrebatar coração algum. Ele era, constantemente, o assunto principal nos salões de cabeleireiro e nas festas de chá-de-cozinha. Vez ou outra, era o motivo, até, de algumas brigas entre casais. Embora não soubesse, o crédito de todo o seu charme vinha do carro que herdara de seu avô. Ironicamente, era de longe um carro bonito, sequer novo: um Dodge Polara 1967 cinza (azul, na cor original), tamanha a quantidade de remendos ao longo da lataria. Mas não era a beleza do carro (ou a falta dela) que atraia as garotas, mas sim a gentileza a elas despendida quando Eduardo insistia em lhes abrir a porta do passageiro sempre que as levasse para passear. E como elas desejavam que ele as levasse para passear. Sorte seria se Eduardo possuísse, naquela época, qualquer conhecimento de etiqueta ou até mesmo de bom senso; fosse assim, não teria se suicidado 8 anos mais tarde. O carro velho era de sentimental na sua integralidade, e a porta do passageiro, danificada em um estranho acidente no início da década de 70, requeria uma técnica toda especial para ser aberta, que apenas seu dono conhecia. Mas, aos olhos das moças românticas do bairro, Eduardo era um cavalheiro único na região, e que deveria ser arrebatado o quanto antes. Normalmente no segundo encontro, elas percebiam que inexistia no varão qualquer vestígio de real educação e etiqueta, e o abandonavam ao azar; ou melhor, à sorte – já que isso não o preocupava, pois diversas outras garotas, esperançosas e desavisadas, aguardavam em fila. Seus colegas (dois, para sermos mais exato) desconheciam sua técnica e desistiram, com o passar do tempo, em tentar entender como Eduardo podia tanto; sendo tão pouco. Os demais rapazes do bairro, mesmo ofuscados pela enorme sombra do lascivo vizinho, conseguiram se arrumar na medida em que os anos avançavam: casaram, constituíram famílias e criaram os filhos. As inúmeras façanhas amorosas de Eduardo, embora tenham criado em volta dele uma áurea de promiscuidade, elevaram consideravelmente seu ego e sua confiança pessoal. De um garoto feio e tímido, tornou-se um homem horroroso mas decidido. Foi bem nos estudos, sobressaiu-se nas atividades profissionais e, depois de 7 anos de esforços superlativos, juntou dinheiro suficiente para realizar outra guinada na vida: adquiriu um enorme apartamento completamente decorado, um guarda-roupas novo e elegante, e um carro recém-saído da fábrica. Com o novo veículo, era o fim da saga do velho Dodge (nessa época repintado de vermelho), que foi doado a um conhecido proprietário de um ferro-velho. Era, também, o fim tão sonhado das chateações com as técnicas elaboradas para subir os vidros, dar a partida pela manhã, engatar a marcha ré, reclinar o banco e, principalmente, abrir a complicada porta do lado do passageiro. Mas o Dodge, embora Eduardo jamais tenha desconfiado (assim como ninguém mais), era a origem e a sustentação do seu diferencial. Com a nova BMW conversível, mal precisava se mexer para que o carro atendesse todos os seus luxos mais secretos; completamente automatizado. Embora monetariamente tranqüilo, Eduardo começou a perceber que as moças, outrora interessadas, se distanciavam. Era o romantismo e a elegância de seus gestos que as atraia; inicialmente, ao menos; quais decorriam, única e exclusivamente, da porta emperrada do velho automóvel de seu avô. Passou meses tendo seus encontros cancelados; seu telefone não tocava mais e sua cama esfriava exponencialmente. Apesar de todo dinheiro e realização profissional, entrou em depressão profunda. Seus cabelos caíram na totalidade, seu rim desistiu de funcionar e a vista implorava por lentes auxiliares. O declínio começou a atingir o trabalho, os poucos amigos e o resto da saúde que lhe acompanhava, destruindo qualquer rastro do ego que ainda lhe restava. Eduardo, mais feio do que nunca, saltou do penúltimo andar do prédio onde morava – pois a porta corta-fogo para o terraço era mantida trancada, impedindo-o de prosseguir – caindo de cabeça sobre um carro velho estacionado em frente ao edifício, danificando, além de toda parte superior, a estrutura que acomodava a porta do passageiro.

11/maio/2006