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Dona Dalva tinha as maças do rosto coradas pela diminuição da temperatura, trazida pelas leves brisas que eram sopradas como resultado da constante batalha entre o dia e a noite. Essa inversão inútil de titularidade sobre o firmamento trazia, além de inúmeras conseqüências ambientais, alterações de humor aos que a tudo observavam.

Com exceção de Dona Dalva, que descansava seu corpo desproporcionalmente avantajado sobre uma antiga cadeira de balanços, construída de madeiras brasileiras de composição rija, bem trabalhadas por carpinteiros hábeis como nunca existiram. Passava o tempo alheia aos conflitos luminosos, concentrada em suas minúsculas tarefas manuais. Embora não pudéssemos chamar de “feroz” a interminável batalha, ambos os oponentes insistiam sua prevalência sobre o outro, recorrendo a argumentos confusos e, muitas vezes, pretensiosamente descabidos.

Dona Dalva balançava vagarosamente sobre o grande assoalho que cobria a varanda, mantendo seus olhos, escondidos sob pequenos óculos de armação prateada, focados em pontos invertidos, semi-pontos suspensos, nós e pequenos laços. Vez ou outra, provavelmente se aproveitando do cansaço do adversário, um dos lados superava o conflito e permanecia por mais tempo desfrutando esse tão desejado pseudo-reinado, pra logo em seguida ser derrubado novamente; certos dias pareciam mais longos que outros, dando a impressão de que o sol brilhava mais forte e por mais tempo; em outros, o inverso tinha a verdade ao seu lado. Dona Dalva preferia a noite, confessava: ”- tudo fica mais quieto e tranqüilo, e tenho um sossego maior para tricotar.” A noite se escondia na sua incerteza e atacava com armas obscuras de tempos imemoriáveis. Uma gladiadora iluminada rebatia do outro lado, cegando o inimigo com o seu brilho e se valendo de seu calor e energia inesgotáveis.

Há quase oito séculos dedicada à sua empresa e, aparentemente imparcial à revolução das duas grandezas, Dona Dalva levantou-se lentamente de sua cadeira em uma noite tépida de outono, com o fruto de tamanha sagacidade em suas mãos. Percorreu com passos pesados, mas precisos, os degraus que levavam ao jardim e olhou para o céu, vislumbrando a escuridão total daquele que reinava o momento. Apertou com força o tecido em suas mãos e, com toda a força que ainda lhe restava nos ossos idosos e desgastados, lançou pra cima o enorme manto, que se casou com perfeição sobre a noite distraída. A luz percorreu o seu caminho por entre o espaço criado pelos nós e se aninhou ao lado do inimigo, na forma das primeiras estrelas, fortemente brilhantes. Quando o dia chegou, a escuridão encontrou um espaço só seu dentre o reinado oposto, na forma de sombras e penumbras criados pelos semi-pontos suspensos. Mesmos desgostosos com essas mútuas invasões, os dois inimigos, ,já esgotados, compadeceram ante a solução, como se concordassem tacitamente com o término do conflito.

Dona Dalva nem sorriu. Ajeitou os óculos que lhe escorregavam à fronte e se acolheu ao interior de sua morada, desesperada por um copo de conhaque.


07/abril/2006