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“- Minha vida está perdida. Já nem sei pra onde eu devo caminhar. E o meu tempo, eu sei é pouco. É preciso amor lhe encontrar.”

Todos dos dias, Aninha chegava cinco minutos atrasada; e estava pouco se fudendo. Culpava o ônibus lotado, o trânsito infernal da cidade de São Paulo e até mesmo, acreditem, os transeuntes na calçada - que, propositalmente, pareciam se unir em um curioso complô para impedi-la de chegar no horário. Trabalhava na pequena empresa de seguros há cinco anos, e costumava comentar aos novos assistentes, mesmo que esses não perguntassem: - É apenas um emprego temporário. Semana que vem saio dessa merda!.

Sua mesa ficava de frente pra porta de vidro que dava acesso à rua, e passava o dia inteiro fingindo que digitava algo nas planilhas eletrônicas enquanto observava às pessoas que passavam em frente ao prédio. O tédio era imenso, mas tentava combatê-lo cantarolando velhas cantigas do Rei Roberto: “- Vou reagir, não pretendo mudar. Quero viver, nada tenho a perder num lugar.”

Certo dia – e é sempre assim que as coisas se iniciam, em um ‘certo dia’ – percebeu um rapaz jovem bem vestido que passava sorrindo em direção ao Largo. Ele possuía um olhar esclarecido e caminhava como que acima dos outros mortais, deixando a beleza em seu rosto colorir as paredes pichadas dos prédios em volta. “- Parou, olhou. Depois sorrindo se afastou. O meu coração se enamorou. Eu acho que me apaixonei.” – Era amor à primeira vista, pensou a moça.

Na manhã seguinte, para sua surpresa, ele passou novamente. E na seguinte; e durante a semana inteira. Todos os dias, no mesmo horário. Aninha voltou a trabalhar na segunda-feira com um sorriso nada habitual, chegou cedo pela primeira vez e finalizou três planilhas antes mesmo da hora do almoço. Obviamente, tais mudanças não passaram desapercebidas pelo seu chefe que, ao perguntar-lhe sobre o ocorrido, obteve como resposta: “- Por amor a gente faz. Tudo a gente aceita. Quando está apaixonado. E não há nada de errado.” Confuso, ele saiu para comer e a deixou com seus pensamentos surreais e suas canções que, talvez de algumas, seus pais até se recordassem.

Sua pele parecia mais lisa e macia e, embora inconsciente, Aninha combinava os brincos com um broche na lapela e a cor do batom. Era uma segunda-feira nublada, e ela pôde sentir os ventos mudarem de direção na medida em que o rapaz se aproximava. Sentia calafrios só de observá-lo andando, despojado entre a multidão, e assoviando para o mundo. E daquela vez, contra todas as previsões e a favor dos sonhos mais íntimos, ele alterou a direção de seu olhar – que foi prontamente seguida pelo seu corpo e pés – e pôs-se em direção da porta de vidro.

Aninha começou a suar frio, enquanto o sangue no seu corpo tinha problemas em decidir se parava de circular ou se fluía com maior intensidade. As letras das músicas do Rei se embaralhavam na sua mente e a impediam de construir qualquer raciocínio lógico. Ele chegou até a porta, a abriu, e o tempo parou! Por oito segundos – que mais pareceram meia eternidade – Aninha pensou em todos os diálogos possíveis, em resposta à primeira frase do rapaz. Seus olhos umedeceram e criaram uma camada viscosa que atraia, como um buraco negro espacial, toda a luz do ambiente. As unhas bem tratadas, pintadas de vermelho-escuro, arranhavam o pequeno bloco de papéis sobre a mesa, em uma tentativa frustrada de manter o controle. Sua vida inteira passou como um filme russo, em imagens desconexas por sua mente e pensou, naquele momento, que viveria para sempre. Para sempre, ao lado dele.

O rapaz se inclinou levemente em sua direção e, antes mesmo de abrir a boca e movimentar seus lábios ressecados para compor qualquer palavra, um delicioso perfume de menta precedia seu hálito. Suas mãos deslizavam lentamente de dentro dos bolsos do terno escuro enquanto se apoiava sobre a mesa de Aninha, olhos focados nos dela, decidido. Ela se escorria pela cadeira. Pensou em filhos, casa na praia, noites estreladas dentro de uma cabana nas montanhas. O nono segundo se iniciou, e ele levantou uma única sobrancelha como gatilho de sua vontade e rugiu, feito um leão em liberdade: - Por que é que você não engole essa porra de sorriso e vai logo enchendo essa minha sacola com grana, bolsas, relógio e o que mais você encontrar aí pelos cantos? Tem que ser rápido... porque eu sei exatamente quanto tempo seu chefe leva pra almoçar; e é pouco! Acorda, maluca... e você ainda tá me olhando porquê?

22/novembro/2006