Bárbara despendia uma atenção excessiva aos detalhes, manuseando com paciência o par de tesouras e um conjunto de agulhas de marfim. Normalmente, passava noites em claro trabalhando em um único olho; ou em um nariz e até mesmo nos fios de cabelo. Aprendera tão nobre ofício com sua mãe - que por sua vez o herdara de sua mãe; e assim o conhecimento vinha sendo transmitido há exatas vinte e duas gerações.
Seus dedos ósseos e alongados dançavam como duas selvagens aranhas brancas sobre as figuras de pano; impacientemente energéticos. Iniciava cada boneco com um recorte padrão, costurava-o e enchia-o com a areia escura extraída da margem de um lago já seco. Depois, lançava sobre ele linhas transparentes, como teias, e as puxava e ajustava até obter o molde desejado. Trabalhava as minúsculas peças de roupa em tecidos caros, com linhas de ouro e prata banhadas nas lágrimas da lua.
Naturalmente, a qualidade e a eficiência de seu trabalho se refletia nos altos preços do produto final, restringindo a clientes abastados o prazer em adquirir tão magnífica manifestação de luxo. Nos círculos em que pertencia, era comum ouvir comentários de que, seus bonecos, eram mais caros do que a própria vida. Bárbara rebatia: “- Valem tanto quanto. Nem mais, nem menos”.
Entretanto, esse boneco em especial não tinha preço; muito menos um cliente rico encomendante. Bárbara o moldava para saciar seus próprios desejos; precisava resolver um certo incômodo. Amarrou-lhe o cabelo dourado, alinhou o pequeno terno com os sapatinhos de couro - cuidadosamente lustrados - e encaixou os olhos pintados em pérolas japonesas.
A iluminação da lâmpada sobre a mesa de trabalho fora substituída, cautelosamente, por reflexos de finas velas arredondadas. Ajustou o boneco impecavelmente dentre longas folhas de palmeira e, num movimento rápido e displicente, espetou-lhe bem no meio do peito com uma faca de cozinha - ainda suja com molho de geléia.
Não muito longe de seu pequeno atelier, cerca de oito quadras à oeste, um jovem advogado morria, vítima de um ataque cardíaco fulminante enquanto se aninhava com uma ruiva de aluguel; de seus lábios, uma espuma grossa, de cor roxa, escorria sobre o lençol barato. Um cheiro de framboesas impregnava o ambiente.
Seus dedos ósseos e alongados dançavam como duas selvagens aranhas brancas sobre as figuras de pano; impacientemente energéticos. Iniciava cada boneco com um recorte padrão, costurava-o e enchia-o com a areia escura extraída da margem de um lago já seco. Depois, lançava sobre ele linhas transparentes, como teias, e as puxava e ajustava até obter o molde desejado. Trabalhava as minúsculas peças de roupa em tecidos caros, com linhas de ouro e prata banhadas nas lágrimas da lua.
Naturalmente, a qualidade e a eficiência de seu trabalho se refletia nos altos preços do produto final, restringindo a clientes abastados o prazer em adquirir tão magnífica manifestação de luxo. Nos círculos em que pertencia, era comum ouvir comentários de que, seus bonecos, eram mais caros do que a própria vida. Bárbara rebatia: “- Valem tanto quanto. Nem mais, nem menos”.
Entretanto, esse boneco em especial não tinha preço; muito menos um cliente rico encomendante. Bárbara o moldava para saciar seus próprios desejos; precisava resolver um certo incômodo. Amarrou-lhe o cabelo dourado, alinhou o pequeno terno com os sapatinhos de couro - cuidadosamente lustrados - e encaixou os olhos pintados em pérolas japonesas.
A iluminação da lâmpada sobre a mesa de trabalho fora substituída, cautelosamente, por reflexos de finas velas arredondadas. Ajustou o boneco impecavelmente dentre longas folhas de palmeira e, num movimento rápido e displicente, espetou-lhe bem no meio do peito com uma faca de cozinha - ainda suja com molho de geléia.
Não muito longe de seu pequeno atelier, cerca de oito quadras à oeste, um jovem advogado morria, vítima de um ataque cardíaco fulminante enquanto se aninhava com uma ruiva de aluguel; de seus lábios, uma espuma grossa, de cor roxa, escorria sobre o lençol barato. Um cheiro de framboesas impregnava o ambiente.
25/Setembro/2006
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