A dor grande no peito e a falta de respiração fizeram Daniel reconsiderar seus hábitos alimentares e o vício pelo cigarro. Já haviam se passado 20 minutos da meia-noite e a batalha estava apenas começando. Escondido atrás do sofá, e agarrado a um taco de beisebol de madeira (autografado em 1998 pelo lendário Sammy Sosa, no Estádio dos Cubs em Chicago), ele se culpava novamente por sua desorganização e falta de atenção. Já era o segundo ano consecutivo que Daniel se esquecera da data e deixava passar, desapercebido, as dicas e os sinais. E era tudo tão óbvio e escancarado. Culpava o trabalho, mas todos sabiam que, no fundo, Daniel sempre foi meio devagar.
Correu de seu esconderijo para a cozinha, onde poderia se proteger melhor entre as portas de metal da geladeira General Eletric de 1962. No caminho, pulou sobre pedaços de ossos no chão, desviou de algumas assombrações e acertou em cheio um lobisomem que tentava passar pela janela da sala.
As eletricidade havia sido cortada e a casa estava escura, iluminada apenas pelos espectros flamejantes e alguns olhos irracionais. Dentro da geladeira pegou algumas cabeças de alho e as mastigou com vontade, arrotando pra longe os vampiros que tentavam lhe cercar.
Daniel podia se esquecer de várias coisas, mas se lembrou com clareza do fato das múmias queimarem rapidamente, e com extrema facilidade... – Experiências do ano anterior – sorria ele, com certo desespero.
Suas pernas e braços estavam exauridos e os monstros continuavam a avançar, encurralando-o em um armário que usava como dispensa de alimentos. Um esqueleto desfigurado se prendeu em seus pés e fez Daniel tombar ao chão, batendo a cabeça com força em uma das prateleiras. Um saco de açúcar rasgou e escorreu pelo azulejo, se misturando ao sangue da ferida e formando um creme doce e rosado.
Mas isso não satisfez aos fantasmas, muito menos aos mortos-vivos. Era preciso muito mais doce. Era dia de Halloween – dia das bruxas e dos mortos – não uma festinha boba de criança, regada à pequenos brigadeiros e lembrancinhas de plástico...
Daniel estava assistindo a uma seleção de vídeo-clipes qualquer, enquanto jantava sozinho na sala. Só se deu conta quando foi atender às batidas na porta e se surpreendeu com as vozes em uníssono gritando;
- Doce ou travessura????
Além de todos os seus defeitos, ele ainda era diabético... nunca tinha doces em casa. Mas prometeu a si mesmo que, depois do ocorrido no último Halloween, mudaria essa situação. Prepararia-se.
Seus olhos, envergonhados, lacrimejaram a resposta que despertou nos monstros, desapontados e irados, o sinal para a invasão; enquanto, ao fundo, ouvia-se ‘Alive’ do Pearl Jam, vindo do som da TV na sala.
Correu de seu esconderijo para a cozinha, onde poderia se proteger melhor entre as portas de metal da geladeira General Eletric de 1962. No caminho, pulou sobre pedaços de ossos no chão, desviou de algumas assombrações e acertou em cheio um lobisomem que tentava passar pela janela da sala.
As eletricidade havia sido cortada e a casa estava escura, iluminada apenas pelos espectros flamejantes e alguns olhos irracionais. Dentro da geladeira pegou algumas cabeças de alho e as mastigou com vontade, arrotando pra longe os vampiros que tentavam lhe cercar.
Daniel podia se esquecer de várias coisas, mas se lembrou com clareza do fato das múmias queimarem rapidamente, e com extrema facilidade... – Experiências do ano anterior – sorria ele, com certo desespero.
Suas pernas e braços estavam exauridos e os monstros continuavam a avançar, encurralando-o em um armário que usava como dispensa de alimentos. Um esqueleto desfigurado se prendeu em seus pés e fez Daniel tombar ao chão, batendo a cabeça com força em uma das prateleiras. Um saco de açúcar rasgou e escorreu pelo azulejo, se misturando ao sangue da ferida e formando um creme doce e rosado.
Mas isso não satisfez aos fantasmas, muito menos aos mortos-vivos. Era preciso muito mais doce. Era dia de Halloween – dia das bruxas e dos mortos – não uma festinha boba de criança, regada à pequenos brigadeiros e lembrancinhas de plástico...
Daniel estava assistindo a uma seleção de vídeo-clipes qualquer, enquanto jantava sozinho na sala. Só se deu conta quando foi atender às batidas na porta e se surpreendeu com as vozes em uníssono gritando;
- Doce ou travessura????
Além de todos os seus defeitos, ele ainda era diabético... nunca tinha doces em casa. Mas prometeu a si mesmo que, depois do ocorrido no último Halloween, mudaria essa situação. Prepararia-se.
Seus olhos, envergonhados, lacrimejaram a resposta que despertou nos monstros, desapontados e irados, o sinal para a invasão; enquanto, ao fundo, ouvia-se ‘Alive’ do Pearl Jam, vindo do som da TV na sala.
26/outubro/2005
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