
Ganhei da minha irmã uma pequena caixa de madeira – vazia – que ela havia comprado como lembrança da visita a uma pequena cidade no interior do Goiás. Era consideravelmente pesada pro seu tamanho, e com um acabamento elegante que contrastava seu excesso de simplicidade. Agradeci com dois olhares e a coloquei sobre a mesa ao lado da minha cama. Ficou esquecida por uns dias lá em cima, até que eu encontrei uma utilidade, deveras importante, para a pequena caixa: guardar o medicamento que me mantinha vivo, dia após dia!
Uma certa manhã, ao abri-la, me deparei com três pequenos seres escondidos em seu interior. Eles se proclamavam ‘Os Senhores do Universo’! Tinham a dimensão de um polegar e aparentavam minúsculos bonecos de pano, com botões brilhantes no lugar dos olhos, roupas extremamente elegantes e sapatos de vidro. Imaginei estar ficando louco, ou que o remédio já não fazia mais efeito mas meu gato também conseguia vê-los e, pela sua reação, tal visão não o agradava muito.
Sou um tolo ás vezes por ignorar pequenos detalhes: os egípcios já acreditavam que os felinos representavam um forte aliado no combate a forças obscuras da natureza. A literatura européia do século XVI está repleta de relatos de bruxos que eram acompanhados, sempre, de gatos como protetores contra encantos ou manifestações malignas. Em várias culturas, modernas até, esses animais trazem uma sensação indiscutível de mau agouro. Stephen King já escreveu muito sobre isso. Neil Gaiman também. E eu não posso ignorar que sempre soube disso.
Os Senhores do Universo passavam o tempo todo discutindo. Discutiam sobre tudo e demoravam dias, ás vezes semanas pra que conseguissem chegar a alguma conclusão. Demorei 1 mês pra descobrir porque eles haviam ‘se mudado’ pra minha caixa de madeira, 3 semanas pra entender o que era o ‘Universo’ e, 1 ano pra entender o que fazia deles ‘Senhores’ desse Domínio.
Resumindo em um curtíssimo parágrafo, foram eles, em tríade, que criaram todo o Universo conhecido – e desconhecido – que acreditamos habitar. Tudo na tentativa de responder uma dúvida sobre culinária que atormentava a cabeça dos onipresentes seres. Queriam saber qual era o melhor tempero a ser utilizado em um patê de frutas e atum servido com torradas integrais. Tanto o Universo quanto o nosso planeta foram criados com esse propósito. Depois de toda a evolução e o desenvolvimento natural dos astros e partículas, eles experimentaram um ótimo patê três séculos atrás; e estão até agora debatendo sobre suas preferências.
Não vou dizer que não me sentia incomodado com os três bonequinhos de pano habitando a minha caixa de remédios. Chegava a ser constrangedor ás vezes: Queria me ‘divertir’ assistindo um filme erótico ou falar besteira no telefone com a namorada e, lá estavam eles! Discutindo, como sempre; mas dava pra perceber que prestavam atenção. Bom, mas se são onipresentes mesmo, que importava?? Acostumei-me depressa... e os anos passaram.
Acordei uma noite com passos sobre o meu peito. Jurava que fosse o gato, que costuma vir se aninhar em dias frios. Abri um olho devagar e, embora tudo estivesse escuro, consegui ver o brilho de seis pequenos botões redondos refletindo a luz de uma lua que não existia.
- Chegamos a uma conclusão! Disse o mais velho deles. (Não me perguntem como eu sabia disso)
- Sobre?
- Sobre o tempero, é claro! Disse um dos outros dois, os quais eu nunca soube distinguir.
- Ah... e qual seria?
- Que tanto importa o tempero, nós vamos descartar o patê e servir as torradas com queijo fundido mesmo!
- Ah... nem sabia que essa era uma opção.
- E não era – respondeu o mais velho – apenas surgiu... vamos embora agora! Obrigado por tudo.
- Como assim, vão embora pra onde? E como ficamos todos nós?
- Isso não é uma preocupação nossa. Concluímos o que queríamos e vamos embora agora... pode ficar com tudo se quiser. Não tem mais utilidade alguma pra gente.
- ... e, faço o que?
- Já fez. De agora em diante você só tem que.... (zaz!!)
Nesse momento, meu gato entrou no quarto pela janela e saltou sobre meu peito, engolindo deu uma vez só as três entidades divinas – se é que posso chamá-las assim. O engraçado foi que nada aconteceu – eu esperava por chamas de energia, fim dos tempos ou algo parecido. Voltei a dormir logo e acordei com uma grande dor de cabeça. Como de costume, abri a caixa de madeira para, em mais um dia, me medicar e continuar vivendo. Todo remédio tinha sumido e, no lugar, se entendiam, duas pequenas formas, feitas de um material semelhante ao gesso. Elas abriram os olhos incomodados com a luminosidade e perguntaram, ao mesmo tempo:
- Você quem nos criou?
(E porque não? Pensei por meio segundo) – Sem dúvida!
- E quem somos nós. O que devemos fazer?
- Vocês são os primeiros e tudo que têm a fazer é.... multiplicar-se!
Uma certa manhã, ao abri-la, me deparei com três pequenos seres escondidos em seu interior. Eles se proclamavam ‘Os Senhores do Universo’! Tinham a dimensão de um polegar e aparentavam minúsculos bonecos de pano, com botões brilhantes no lugar dos olhos, roupas extremamente elegantes e sapatos de vidro. Imaginei estar ficando louco, ou que o remédio já não fazia mais efeito mas meu gato também conseguia vê-los e, pela sua reação, tal visão não o agradava muito.
Sou um tolo ás vezes por ignorar pequenos detalhes: os egípcios já acreditavam que os felinos representavam um forte aliado no combate a forças obscuras da natureza. A literatura européia do século XVI está repleta de relatos de bruxos que eram acompanhados, sempre, de gatos como protetores contra encantos ou manifestações malignas. Em várias culturas, modernas até, esses animais trazem uma sensação indiscutível de mau agouro. Stephen King já escreveu muito sobre isso. Neil Gaiman também. E eu não posso ignorar que sempre soube disso.
Os Senhores do Universo passavam o tempo todo discutindo. Discutiam sobre tudo e demoravam dias, ás vezes semanas pra que conseguissem chegar a alguma conclusão. Demorei 1 mês pra descobrir porque eles haviam ‘se mudado’ pra minha caixa de madeira, 3 semanas pra entender o que era o ‘Universo’ e, 1 ano pra entender o que fazia deles ‘Senhores’ desse Domínio.
Resumindo em um curtíssimo parágrafo, foram eles, em tríade, que criaram todo o Universo conhecido – e desconhecido – que acreditamos habitar. Tudo na tentativa de responder uma dúvida sobre culinária que atormentava a cabeça dos onipresentes seres. Queriam saber qual era o melhor tempero a ser utilizado em um patê de frutas e atum servido com torradas integrais. Tanto o Universo quanto o nosso planeta foram criados com esse propósito. Depois de toda a evolução e o desenvolvimento natural dos astros e partículas, eles experimentaram um ótimo patê três séculos atrás; e estão até agora debatendo sobre suas preferências.
Não vou dizer que não me sentia incomodado com os três bonequinhos de pano habitando a minha caixa de remédios. Chegava a ser constrangedor ás vezes: Queria me ‘divertir’ assistindo um filme erótico ou falar besteira no telefone com a namorada e, lá estavam eles! Discutindo, como sempre; mas dava pra perceber que prestavam atenção. Bom, mas se são onipresentes mesmo, que importava?? Acostumei-me depressa... e os anos passaram.
Acordei uma noite com passos sobre o meu peito. Jurava que fosse o gato, que costuma vir se aninhar em dias frios. Abri um olho devagar e, embora tudo estivesse escuro, consegui ver o brilho de seis pequenos botões redondos refletindo a luz de uma lua que não existia.
- Chegamos a uma conclusão! Disse o mais velho deles. (Não me perguntem como eu sabia disso)
- Sobre?
- Sobre o tempero, é claro! Disse um dos outros dois, os quais eu nunca soube distinguir.
- Ah... e qual seria?
- Que tanto importa o tempero, nós vamos descartar o patê e servir as torradas com queijo fundido mesmo!
- Ah... nem sabia que essa era uma opção.
- E não era – respondeu o mais velho – apenas surgiu... vamos embora agora! Obrigado por tudo.
- Como assim, vão embora pra onde? E como ficamos todos nós?
- Isso não é uma preocupação nossa. Concluímos o que queríamos e vamos embora agora... pode ficar com tudo se quiser. Não tem mais utilidade alguma pra gente.
- ... e, faço o que?
- Já fez. De agora em diante você só tem que.... (zaz!!)
Nesse momento, meu gato entrou no quarto pela janela e saltou sobre meu peito, engolindo deu uma vez só as três entidades divinas – se é que posso chamá-las assim. O engraçado foi que nada aconteceu – eu esperava por chamas de energia, fim dos tempos ou algo parecido. Voltei a dormir logo e acordei com uma grande dor de cabeça. Como de costume, abri a caixa de madeira para, em mais um dia, me medicar e continuar vivendo. Todo remédio tinha sumido e, no lugar, se entendiam, duas pequenas formas, feitas de um material semelhante ao gesso. Elas abriram os olhos incomodados com a luminosidade e perguntaram, ao mesmo tempo:
- Você quem nos criou?
(E porque não? Pensei por meio segundo) – Sem dúvida!
- E quem somos nós. O que devemos fazer?
- Vocês são os primeiros e tudo que têm a fazer é.... multiplicar-se!
09/setembro/2005
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