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Existem pessoas que não acreditam em esperança, muito menos em milagres... vazios e infelizes indivíduos que descrêem, até mesmo, em suas próprias existências! Eu sempre fui um deles.

- Não há mais nada que possamos fazer. O caso é grave e não vemos a menor possibilidade dele resistir a todos esses ferimentos! – disse o recém-formado médico, com bastante naturalidade, à minha mãe. – Ela sempre foi uma lutadora; uma mulher com classe, forte e de muita fibra. Era ‘O Pilar’ que mantinha a família unida! – Mas essa foi a segunda vez em que ela quase desabou!

Eu estou morrendo e não tenho a mínima idéia disso. Talvez seja melhor assim, se fomos pensar direito. A maior teoria era a de que eu tivesse dormido ao volante. Mas a verdade, que só eu sei, foi de que desviei bruscamente de um cachorro perdido no meio da estrada e capotei em direção ao fundo do vale. Perda total do veículo... e do motorista. E o irônico é que eu não gosto nada de cachorros.

Na prancheta ao lado do leito, a folha de papel azul impressionava até os enfermeiros mais experientes, tamanho o volume de informação e de medicamentos ali inseridos: costelas quebradas, ossos dilacerados, músculos rompidos, órgãos danificados ou perdidos, antibióticos, anti-inflamatórios, analgésicos e litros de morfina. Um coquetel a dar inveja a qualquer freqüentador de Rave Parties.

- É uma questão de horas... – babava pelo canto da boca o mesmo médico, enquanto amigos próximos e familiares se aglomeravam em um salão de esperas logo em frente ao quarto, ansiosos por uma notícia qualquer... menos desse tipo!

Diferentemente do que muita gente relata nesse tipo de situação, pessoas que sobreviveram para contar como foi, eu não me vi flutuando sobre o quarto nem visualizando meu corpo inerte na cama; não vi túnel escuro com nenhuma luz ofuscando minha visão; não encontrei minha avó falecida, nem Jesus Cristo, e muito menos o Rei. Eu estava, sim, era no topo de uma montanha de corpos dilacerados, no coração de uma batalha épica onde, aparentemente, eu era o único sobrevivente da minha facção – seja lá qual fosse; e esse era o menor dos meus problemas. Os inimigos vinham aos montes em suas armaduras reluzentes, e tombavam um a um sob a minha espada, irreconhecível ante a enorme quantidade de sangue e súplicas que escorriam pelo seu fio.

Quem é o próximo? – Perguntou minha mãe em prantos, organizando a entrada daqueles que queriam dizer um último adeus, quando, imaginavam eles, eu pudesse ouvir alguma coisa.

Mas eu não ouvia nada. E como poderia? O som de metais se chocando e de ossos sendo destroçados barravam qualquer tipo de percepção. A batalha já durava dias e meu corpo demonstrava evidentes sinais de exaustão. Os músculos reclamavam do abuso constante e ininterrupto e o coração se engasgava ante o excesso de adrenalina que eu influía aos litros. As armaduras brilhavam sob o perene sol de meio dia, forte, e fechavam um círculo perfeito de morte a minha volta. Eu iria tombar. E tombar feio.

Um a um eles foram entrando e, solidários à minha condição moribunda, diziam palavras de conforto e até mesmo de fé. Mas em vão! Minha mãe se encontrava em total estado de desolação e começava a perder, até certo ponto, traços de sanidade. Os enfermeiros haviam desligado a maioria dos equipamentos que registravam a minha (falta de) condição e começavam os preparativos para liberar o quarto para outro paciente. Foi nesse momento em que ela chegou; despretensiosa como a maioria, apenas triste com a perda de alguém por quem nutriu um grande sentimento tempos atrás. Suas palavras não diferiram em nada das palavras dos demais. Dissílabos gaguejados apenas.

Foi quando a espada voou longe pelo campo de morte e me deixou inofensivo perante a horda sedenta pela minha essência. Em um piscar de olhos, toneladas de metal filtravam agora o ar que rastejava até meus pulmões, quando um estrondo de uma magnitude divina eclodiu vibrando o solo sob os cadáveres em acelerada decomposição. O céu, outrora claro e ensolarado, se cobriu de nuvens negras carregadas de chuva e ódio em uma velocidade impressionante. Um canto angelical soou como trovões em uma tempestade e, embora eu não pudesse entender uma única palavra, algo em forma de energia irradiou de dentro do meu peito e transformou meus braços em massas de guerra. Os soldados inimigos se desintegravam ao contato dessa nova fúria e, enquanto eu conquistava terreno e vislumbrava uma rápida vitória, descobri pelo que – ou por quem – eu estava lutando; e a qual facção eu pertencia.

Ela tocou meu rosto como se pela última vez, em um gesto de arrependimento por ter reaparecido tão tarde, em um momento em que nada mais pudesse ser feito. Pensou, por um segundo, como seria fácil convivermos se nossas conversas pudessem ter sido assim: eu sempre em estado catatônico e ela podendo expor seus reais sentimentos. Seus dedos percorreram linhas gastas com o tempo e chegaram a lábios secos e machucados.

O último combatente, um general em armadura negra, tombou fácil, esmagado sob as duas massas de energia vibrante que comandavam a minha investida.

Eu saí do coma, abri os olhos e sorri. Nunca havia doido tanto sorrir... os ossos se recuperaram em semanas, os músculos se desenvolveram novamente em anos, o coração (um dos órgãos mais afetados) continua partido; em eterna recuperação.


06/setembro/2005